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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Bullying rende condenação de estudantes em Ribeirão Preto

Quando alguém persegue, amedronta, humilha e o chama de baleia ou pau de viratripa, isso se chama bullying

Jucimara de Pauda
O site de relacionamentos Orkut possui pelo menos mil comunidades que falam sobre bullying. Nos grupos de discussão, crianças e adultos desabafam. Falam sobre o que é ser constantemente humilhado, chamado de "gordo", "quatro olhos", "burro". Lamentam também apanhar dos colegas e não ter coragem de, em casa, contar tudo aos pais.
Eles também se queixam de professores que ignoram o fato e de escolas que fingem que nada acontece. Todos concordam que é uma situação insuportável e que frequentar a escola se tornou um inferno.
Quem já passou pelo problema aconselha quem sofre, mas garante que é difícil superar o trauma. Na comunidade "você é vítima de bullying", por exemplo, um menino de 12 anos diz que que não aguenta mais ser espancado pelos colegas. "Eles passam perto de mim e me chutam ou colocam o pé na frente e eu caio. Já reclamei para a diretora, mas não adiantou. Não aguento mais essa humilhação".
Um menino de 9 anos também afirma que tem vontade de sair da escola por causa da perseguição na sala de aula.
"Eu sou magro e uso óculos e eles riem de mim o tempo todo. Minha mãe foi na escola, falou com a diretora, mas não adiantou nada. Quero parar de estudar", desabafa
Traumas
Uma jovem que diz ter 25 anos afirma que até hoje sofre com as brincadeiras da época da adolescência.
"Eu tinha 12 anos e as amigas inventavam músicas para mim e cantavam na frente de todo mundo. Eu chegava em casa e chorava muito, mas na frente delas eu sorria. Fui contar para os meus pais quando tinha 22 anos e comecei a superar", afirma.
Outro garoto afirma que os colegas o atormentam o tempo todo.
"Eu vou falar com o professor, eles me zoam, eu estou no intervalo, eles me zoam, se erro algo na sala de aula, eles me zoam. É um verdadeiro inferno", diz no depoimento.
Maldades
Uma mulher de 41 anos também conta que quando era menina era vítima de brincadeiras maldosas. "Eu tinha seios grandes e era miúda. Eles me apelidaram de vaca leiteira. Até pouco tempo eu ainda sofria com isto, mas fiz duas cirurgias plásticas para diminuir os seios e hoje me sinto melhor".
Uma mãe denuncia que a filha de cinco anos é vítima de bullying. Procurou a escola e a direção não tomou conhecimento.
Os coleguinhas não conversam com a menina porque ela tem problemas de dicção e "fala errado".
"Eles a ignoram e ela não consegue se enturmar mesmo sendo meiga, alegre e afetiva", lamenta-se.
Razões
O psicólogo Timóteo Vieira diz que a vítima de bullying sofre abusos frequentes e é colocada em uma situação na qual dificilmente consegue se defender. "Há razões de natureza social que acabam levando a vítima a sentir-se aprisionada na situação. Talvez por isso ocorram comportamentos violentos, alguns extremos, por parte da vítimas de bullying. Em situações de intenso desconforto psicológico e no qual a pessoa se sente aprisionada, pode parecer que somente ações extremas seriam saídas possíveis", enfatiza.
Diferenças
Ele diz que o alvo do bullying é a criança ou adolescente que tem características que o tornam distinto da maioria, mais vulnerável.
A aparência física, a timidez, deficiências, são características frequentes de vítimas de bullying.
Ele diz que, para quem quem faz o bullying, a prática rende certo destaque no grupo social
"Agressores que abusam de colegas normalmente ganham popularidade e força e é comum assumirem postura de líderes".
Ele enfatiza que é importante detectar porque o bullying ocorre e as implicações dele para as vítimas e agressores. "De certo modo, vítima e agressor, olhados de diferentes pontos de vista, podem ser ambos vítimas. Mas isso é complexo, porque não há respostas rápidas, prontas e simples que nos ajudem a compreender o fenômeno."
Justiça
O juiz Paulo César Gentile, da Vara da Infância e da Juventude do Fórum de Ribeirão Preto, já determinou que pelo menos dez adolescentes fizessem trabalhos comunitários pela prática de bullying.
A última decisão é de julho, contra dois adolescentes do Liceu Albert Sabin, que teriam cometido bullying contra um colega de classe.
Também já foram punidos pelo juiz com a prestação de serviços à comunidade dois adolescentes que chamaram a colega de "bode", em novembro de 2008, no Instituto Metodista, e seis garotas que criaram o "Bonde do Capeta" na Escola Estadual Domingos Spinelli, para perseguir as companheiras de sala de aula, em 2009.
No entanto, o juiz diz que os casos não são frequentes na Justiça.
"O fato é que nem sempre os casos chegam ao conhecimento da Justiça, ou porque são resolvidos no ambiente escolar, ou porque as vítimas são intimidadas e não relatam as agressões físicas ou morais aos seus pais", afirma.

 Fonte: Jornal A CIDADE.

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