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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A menina que deixou a escola por sofrer bullying

Quem vê Pamela Harada, 16 anos, com seu look e make descolados no karaokê ou nas baladas com os amigos dificilmente consegue imaginar que ela seja vítima de algum tipo de discriminação. Mas assim como milhares de adolescentes em todo o mundo, a paulistana conheceu de perto o bullying. 


Desde os 9 anos, a garota mora no Japão com a família. E foi logo ao entrar na escola que Pamela teve de encarar o ijime (palavra japa para bullying). Ela era ignorada por ser estrangeira e, mesmo sabendo falar japonês, não conseguia fazer amigos (no Japão, os descendentes costumam ser mais discriminados do que os estrangeiros). "Uma vez, meus colegas disseram que tinham nojo de mim", conta. Vivendo num ambiente assim, a garota foi se fechando. "Eu não tinha vontade de ficar na sala de aula, não conseguia confiar em ninguém. Até que a minha professora me colocou numa sala fechada, sozinha. Eu ficava o dia todo fazendo nada." 

Além de sofrer, Pamela viu a irmã ter de encarar o mesmo problema: Laryssa, 13 anos, chegou a apanhar de alunos no corredor do colégio. Para preservar as filhas, o pai de Pamela ia na escola pelo menos três vezes por mês para reclamar. Dos professores, ouvia a promessa de que iam conversar com os pais dos outros meninos, mas nada mudava. A mãe das meninas, cansada de vê-las nessa situação, procurou a escola também e ouviu que as filhas precisavam se acostumar à sociedade japonesa. 

Sem conseguir solucionar o problema ou ter a permissão da prefeitura para frequentar outra escola pública (algo que rola no Japão), as faltas viraram rotina. Pamela chegava a chorar em casa para não ter de ir à aula. "Teve uma época em que eu estudava na enfermaria da escola, fazia até as provas lá. No último dia de aula, uma menina chegou e disse que tinha achado um tênis embaixo da torneira. Depois, soube que era o meu." 

Meses após perder um amigo num acidente de carro - também vítima de bullying -, a única amiga da garota também começou a ser discriminada. Os colegas pegaram uma cartinha que Pamela havia escrito para ela, passaram de mão em mão na classe e fizeram uma ameaça: quem se aproximasse das duas seria o próximo a passar por humilhações. "Meu pai foi à escola e tentou conversar, mas o diretor não deu bola. Aí ele chamou uma das meninas que me zoavam e falou que, no Brasil discriminação é crime. O pior é que essa garota já tinha sido minha amiga." 

As sessões de queixas na mesa do diretor só acabaram quando a adolescente fez um desabafo que deixou a família toda em alerta. "Ela nos disse que, para viver daquele jeito, preferia a morte", lembra Lúcia, mãe de Pamela. Ela acabou tomando uma decisão radical: saiu do emprego e mudou-se com a família para outro bairro, para que as meninas pudessem ir para uma escola diferente. 

Pena que o esforço não deu certo. Pamela e a irmã caçula continuavam a ser as únicas estrangeiras do colégio, sofrendo ijime dos colegas. A solução foi seguir o conselho de uma professora e ingressar a Free School, instituição de ensino criada para receber vítimas de maus-tratos e estudantes com dificuldade de aprendizado. "As pessoas de lá eram superlegais", conta Pamela. O único porém era a mensalidade do colégio, que ultrapassava os mil reais por mês. Sem dinheiro para quitar as parcelas, Pamela teve de deixar as aulas de lado e passou a trabalhar numa loja de conveniência perto de casa. 

Enquanto não volta a estudar, ela está aprendendo inglês, pois já tem certeza do que quer fazer mais no futuro: cursar faculdade de direito nos Estados Unidos ou na Inglaterra - e, quem sabe, estudar moda e maquiagem, paixões que cultiva desde criança. Sobre todo o bullying que sofreu, Pamela tenta ser positiva: "Não importa o que as pessoas achem de você. O que importa é o que você acha de si mesmo". 



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